
O espaço “No Alpendre do PN” (entrevistas do jornal Potiguar Notícias) recebeu essa semana a prefeita de Macaíba, Marília Pereira Dias (PMDB). Eleita em cinco de outubro de 2008, com 19.132 votos, Marília derrotou o ex-prefeito Luiz Gonzaga Soares (PSB). Natural de Mossoró, graduada em Odontologia pela UFRN, Marília virou notícia este ano quando se desligou politicamente de seu padrinho político, o ex-prefeito Fernando Cunha Lima. Confira a entrevista concedida a este blogueiro/jornalista e ao repórter Roberto Lucena:
Cefas Carvalho: Como foi esse primeiro ano de administração?
Foi difícil, mas prazeroso também, porque eu tenho contato com o povo. Estou administrando, indo à feira, sentindo o que o povo quer. Estou descobrindo isso e está me deixando a par das coisas que acontecem em Macaíba muito mais do que eu ficasse no gabinete. Estou indo às ruas e administrando.
Roberto Lucena: Podemos dizer que a senhora é novata na política. De onde surgiu a idéia de a senhora sair candidata a prefeita de Macaíba?
Essa idéia surgiu quando eu trabalhava na Saúde, era secretária-adjunta de Saúde. O grupo sempre acharia que seria a minha irmã, Ederlinda, que era a secretária de Saúde. Mas Ederlinda disse que não queria. Na hora surgiu meu nome e eu disse que aceitaria. Fui às ruas e conquistei a população e me tornei prefeita.
RL: A senhora imaginava sair candidata e logo topou o convite?
Eu não imaginava. Nunca imaginei ser prefeita de Macaíba. Mas depois que segurei a bandeira e fui às ruas, assumi a postura e até hoje estou dizendo pra que eu vim. Assumi a candidatura e o cargo de prefeita com todas as minhas forças.
CC: Como marinheira de primeira viagem, durante a campanha, pensou em desistir? A campanha foi tranqüila?
Não. Não foi tranqüila, mas a partir do primeiro dia que fui às ruas o povo acreditou em mim e aquilo foi uma bandeira que cresceu. Tanto que o ex-prefeito ganhou duas vezes por 700 votos, e mesmo sendo marinheira de primeira viagem, conquistei a população e ganhei com quase 3 mil votos de maioria. Então foi toda uma história de uma campanha diferente, uma campanha acirrada onde muitos me chamavam de forasteira, mas eu sempre estive presente mostrando para quê eu vim. Eles acreditaram numa pessoa nova que podia fazer mais por Macaíba e isso estou fazendo. Minha popularidade está boa porque eles estão acreditando em mim e eu estou correndo atrás. Eu atendo na prefeitura e a todas elas dou resposta. Não deixo de atender a população. Acredito que é do povo que vem a verdadeira linguagem das reclamações.
CC: O que aconteceu de fato no rompimento com o ex-prefeito Fernando Cunha Lima?
Aconteceu mais um problema familiar. Eu precisaria de um tempo para acomodações. Nada que seja irreversível isso. Graças a Deus os traumas não foram grandes, mas naquele momento quem tinha que sentar naquela cadeira seria Marília. E Marília queria administrar a cidade. Quando eu assumi, quer dizer, as minhas decisões são minhas. Antes a decisão era tomada entre outras pessoas. A questão familiar eu prefiro não falar sobre o assunto. A questão administrativa é que a cadeira de prefeito é só uma, e quem tem que administrar é uma pessoa só.
CC: O problema foi familiar, mas também é público...
Isso é a questão de quem é a prefeita é Marília, o ônus e o bônus são da prefeita.
CC: Qual era o cargo de Sérgio Cunha [irmão de Fernando Cunha exonerado pela prefeita?
Ele era secretário particular da prefeita.
RL: Quem assumiu o cargo?
Quem assumiu foi meu irmão.
RL: Essa situação então pode mudar?
Pode. Deixa passar as coisas. Não posso dizer que foi definitivo.
RL: Então ainda existe uma certa convivência?
Não. No momento não tem. Mas eu não posso dizer que jamais voltaremos. Não digo a ninguém isso.
CC: Existe uma relação institucional entre a senhora e o ex-prefeito Fernando Cunha?
Ainda não.
RL: Quando houve o rompimento, como a população reagiu?
Eu me senti mal. E me sinto ainda. As pessoas evitavam falar sobre o assunto, me respeitavam. Nenhum rompimento é bom. Mas as pessoas respeitavam e não falavam sobre o assunto.
RL: Nesse primeiro ano, o que foi mais difícil: lidar com os problemas administrativos ou políticos?
Administrativos. Graças a Deus o político eu tive abertura com a governadora e eu não tive problema. Quando assumi, disse que quebraria as bandeiras partidárias e esse ano seria administrativo. Quem vem, que votou do outro lado, não tem problema. Recebo todas as pessoas. Não quero falar de política esse ano. Política esse ano estou fora. Eu quero administrar a cidade. Só digo que quem fizer mais por Macaíba terá meu apoio.
CC: Existe alguma possibilidade de aproximação política entre a senhora e o ex-prefeito Luizinho?
Não. Nenhuma. Nenhuma!
RL: Nem com uma intervenção da governadora?
De jeito nenhum. De jeito nenhum. Quero que isso fique bem claro. Nenhuma. Porque querem confundir as pessoas como se eu tivesse uma ligação com Luizinho. É uma coisa pessoal, não quero. São duas pessoas com personalidades distintas e eu não quero misturar.
RL: A senhora disse que não quer falar em política esse ano mas não posso deixar de perguntar sobre 2010. A senhora já disse que apoia quem contribuir mais com Macaíba. Como estão as conversas? Quem tem se mostrado o melhor parceiro de Macaíba?
Olhe, até agora eu não conversei politicamente com ninguém. Eu sou do PMDB de carteirinha, então o PMDB não sabe com quem vai ficar e não posso dizer... Vamos ver como o PMDB vai se comportar.
CC: Formando uma chapa, a senhora já tem nomes?
Não. Não tem chapa ainda. Não vamos formar chapa, não. Eu prefiro trabalhar sem chapa. Próximo ano nós vemos qual é a chapa.
RL: Mas sendo do PMDB de carteirinha, como a senhora ver esse racha dentro do partido protagonizado por Henrique Alves e Garibaldi Filho?
Acho que vão se unir.
CC: Para que lado?
Não sei. O lado que for melhor para o PMDB. Isso eu tenho certeza. Eles não vão brigar, vão se unir. Acredito num PMDB unido.
CC: Qual sua relação com a Câmara Municipal de Vereadores de Macaíba?
Ótima. Não tenho problema com a Câmara. Temos uma parceria aberta com projetos e graças a Deus estamos bem.
RL: Não existe uma oposição contra a prefeita?
Oposição tem que existir até para que eu caminhe melhor, mas temos uma relação boa. De confiança, de abertura política, de conversar.
RL: Qual projeto a senhora sonhava implantar no município mas não conseguiu ainda?
Minha maior frustação foi que eu queria investir muito mais na educação. Foi uma bandeira que assumi. Trabalhei muito na saúde e, como ajudei nesse setor, queria também ajudar na educação. Esse ano meu projeto era construir três escolas modelos, mas com a queda do FPM [Fundo de Participação dos Municípios] não consegui. Isso foi uma das coisas que me frustou. Pode ser pouco. Construir três escolas para uma cidade como Macaíba? Pode ser pouco. Mas eu queria fazer no mínimo três escolas. É pouca coisa diante do município, mas isso era um projeto pessoal, de dar uma resposta melhor para a educação e não consegui por causa da queda. Mas estou disposta e espero que essas três se multipliquem em muito mais. Já compramos o fardamento completo dos alunos, estamos investimento na capacitação dos professores, diretores. Tudo isso estamos fazendo. Mas queria dar uma resposta mais concreta para as pessoas.
RL: Semana passada a senhora esteve em Brasília. Trouxe alguma boa notícia de lá?
A boa notícia foi uma creche. Assinamos um convênio no valor de R$ 1,2 milhão para o Campo da Mangueira. Estivemos com alguns assessores de ministros para viabilizar outros projetos. E estamos correndo atrás da ponte que ligue Macaíba e São Gonçalo. O orçamento é de R$ 10 milhões.
CC: Como administradora municipal, qual a percepção que a senhora tem da crise? Acha que foi uma marolinha?
Olhe, se foi uma marolinha, foi só para os grandes empresários, para os prefeitos foi uma tsunami.
RL: Uma das preocupações da população da Grande Natal diz respeito a segurança. Macaíba, assim como São Gonçalo e Parnamirim, sofrem muito com os índices de violência elevados. O que a prefeitura tem feito para diminuir esses números?
Olhe, posso lhe dizer, com segurança, que tem melhorado. Houve uma mudança de comando, vai se tornar em Batalhão, houve uma mudança de efetivo de policiais. Já vieram várias viaturas para Macaíba, que antes era somente uma, e estamos pleitando um aumento no efetivo. Uma coisa que melhorou esse ano foi a segurança. Você vê polícia na rua, vê polícia fazendo blitz, vê polícia circulando nas ruas.