MACAÍBAS

Então você me trouxe Macaíbas.
Eram diferentes de qualquer coisa que eu pudesse esperar.
Não eram pitombas, não eram ciriguelas, nem tampouco carambolas.
Eram Macaíbas.
Após o susto do inesperado e a constatação física do nunca visto, descobri que de fato eram macaíbas.
Mas, o que se fazer de coisas tão delicadas em sua bruta natureza de elemento de terra?
Havia uma primeira fase.
Havia a fibra amarela e nodosa de um quase exterior.
Precisava ser rompida, rasgada aos dentes, ao mesmo tempo em que me pedia as minhas águas.
Tocava a macaíba com pudores, com as mãos tímidas de quem tem algo quebrável por entre os dedos. Ou algo perigoso. Ou ainda algo além disso, algo precioso, vindo das entranhas de tuas mais intimas intenções, de teus mais coloridos dias.
Senti então a grande marca de sentidos que aquele fruto imprimia aos meus toques.
No contato com a minha boca, senti algo de primordial na seiva seca do fruto que aos poucos se misturava com minha seiva tão igualmente seca.
Aos poucos fui me deixando vencer.
Na esperança da promessa do de dentro, não pude me dedicar às fibras.
E mesmo apesar de toda a sorte de sentidos que me foram entregues, constatei um fato,
Ainda não estou pronto para as Macaíbas.
ao menos não ainda.

Marcelo Cavalcanti