A FUNDAÇÃO E O ANIVERSÁRIO DE MACAÍBA

Anderson Tavares
Quando teve início a ocupação territorial de Macaíba? Quando foi fundada? Por que comemorar o dia 27 de outubro como a maior data municipal? Esses e outros elementos da história de Macaíba serão analisados no presente artigo, no qual apresentaremos subsídios demonstrando que comemoramos erroneamente a data municipal.

O espaço territorial ocupado atualmente pela cidade de Macaíba é antiguíssimo quanto à ocupação, remontando ao ano de 1614, data das distribuições das primeiras sesmarias que englobavam o espaço geográfico da cidade. Contudo, por essa época, toda a terra fazia parte da cidade do Natal e não se possuía uma perspectiva, mesmo diminuta, de formação de um povoado.

Com a construção do antigo engenho Potengi, hoje Ferreiro Torto, não houve alteração dos planos relativos a uma cidade, ou seja, os fundadores do engenho ergueram tão somente um espaço de exploração da terra, sem perspectivas evolutivas para um povoado.

Tempos mais tarde, precisamente após a decadência econômica do engenho Potengi e o local já transformado em quartel do Terço dos Paulistas, cujos milicianos vinham combater na chamada Guerra do Gentio Tapuia. Com o término da guerra alguns não retornaram aos seus locais de origem, espalhando-se pela ribeira do Jundiaí e do Potengi, erguendo fazendas de criação e engenhos, como foi o caso do sargento-mor José de Morais Navarro, que reestruturou o antigo engenho Potengi.

Outro miliciano que não retornou as suas terras foi o coronel Manoel Teixeira Casado, que juntamente com o alferes Roque da Costa, receberam uma sesmaria margeando o Rio Jundiaí a qual deram o nome de Sítio Coité. Os sesmeiros nada fizeram para iniciar um povoado, limitando-se somente a criação e ao cultivo da terra com poucos escravos.

O sítio Coité foi sendo herdado pelos descendentes do coronel Manoel Teixeira Casado até sua neta Maria Angélica da Conceição, casada com o coronel Joaquim José do Rego Barros, senhor do engenho Ferreiro Torto e que depois de participar da junta governativa provincial de 1821, juntamente com o capitão Francisco Pedro Bandeira de Melo, vendeu a este a propriedade Coité com todas as benfeitorias então existentes, recolhendo-se ao Ferreiro Torto.

O capitão Francisco Pedro Bandeira de Melo prossegue criando e plantando no sítio Coité. Eis que surge o comerciante Fabrício Gomes Pedroza, senhor do engenho Jundiaí e após o casamento com Damiana Maria Bandeira de Melo, filha do capitão, herda a propriedade e imbuído de uma visão econômica mais ampla, teve o pioneirismo de pensar e fazer um povoado.

Fabrício Pedroza não pensou pequeno como seus antecessores quanto espaço de terra que herdou. Rapidamente construiu armazéns para receber as mercadorias vindas do sertão com destino a capital e atraiu para o lugarejo várias pessoas de suas relações comerciais para se fixarem no sítio, fundando uma feira com esses comerciantes.

Conforme o diário de notas familiar intitulado Aos Meus, de autoria de Maria Terceira da Silva Pedroza, naquele dia 26 de outubro de 1855, aniversário de papai, ele reuniu representantes do clero, amigos e familiares, não para sua comemoração natalícia, mas sim, para a fundação de um povoado pelo qual bateu-se com todas as forças para ver prosperar. Assim nasceu o povoado da Macaíba, margeando o Jundiaí.

O texto de D. Maria Terceira Pedroza, até então desconhecido, nos fornece elementos suficientes para determinarmos a data precisa de fundação de Macaíba. O que acontece atualmente é uma aberração histórica. Todo ano comemora-se o dia 27 de outubro de 1877, quando o povoado foi elevado à categoria de vila e teve a sede administrativa transferida de São Gonçalo do Amarante para Macaíba.

Macaíba não tem somente 134 anos de história! É preciso rever essa data, sob pena de continuarmos em um erro histórico, repassado de geração a geração. Comemorar o 27 de outubro de 1877, como a data municipal, é esquecer o legado histórico da fundação da cidade em 26 de outubro de 1855. É negar a existência da história macaibense quando ela se apresenta mais rica e mais cheia de elementos, práticas e representações formadores de sua comunidade.